Parece que ainda não entendemos que estamos em uma Emergência Climática

A UNFCC publicou nessa semana o Relatório Síntese de NDCs, uma síntese dos planos de ação climática comunicados nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países. O relatório mostra que os avanços nas reduções de gases de efeito estufa (GEE) estão aquém das necessárias para limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C ou a no máximo 2°C, comparado a níveis pré-industriais.

Apesar das atualizações ou novas submissões de NDCs feita por 113 países, que representam 49% das emissões globais de GEE, a redução desses gases estimada até 2030 é de somente 12%, comparado a 2010. Isso porque o IPCC estima que, até 2030, precisamos de reduzir 45% das emissões de CO2 para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ou reduzir 25% para limitar o aquecimento a 2°C.

A situação melhora ligeiramente à vista que alguns países se comprometeram com a neutralidade em carbono (net-zero) até 2050, o que indica uma estimativa de reduções das emissões de cerca de 26% até 2030. Entretanto, a grande má notícia é que ao contabilizar todas as NDCs submetidas pelos 191 países que ratificaram o Acordo de Paris, até então, teremos um aumento de cerca de 16% nas emissões de GEE em 2030, o que aponta que estamos a caminho de um aumento na temperatura média global de 2,7°C até o final do século.

O Climate Action Tracker também lançou na semana passada um relatório classificando as políticas e compromissos climáticos de 37 países que englobam 80% das emissões globais de GEE e 70% da população mundial. Gambia é o único país que tem políticas e metas compatíveis com o limite de aquecimento global de 1,5°C, ou seja, nenhum outro país abrangido no estudo, dentre eles as maiores economias mundiais, está alinhado ao Acordo de Paris.

O destaque recai em países como Brasil e México que submeteram metas iguais às de 2015, cuja mudança nas bases de cálculo revelam promessas mais fracas que as anteriores. Outros países como Austrália, Indonésia, Singapura, Vietnam, Nova Zelândia e Suíça também preocupam pela falta de ambição das metas atualizadas. Já a China, apesar de ter divulgado novas metas, ainda não oficializou junto à UNFCCC.

O cenário climático alarmante necessita de maior ambição nas metas e alinhamento efetivo às políticas dos países. Ainda é possível atualizar os compromissos e cobrar por maior cooperação internacional no alcance de suas metas diante da emergência climática. Mitigar e adaptar às mudanças do clima somente será possível se todos os países agirem juntos e quando outros atores importantes, como empresas também reconhecerem o seu papel na crise e agirem.

As expectativas para a COP26, conferência de mudanças climáticas da ONU que acontecerá em menos de dois meses, estão altas. Será que até lá seremos mais ousados? Será que finalmente faremos jus a palavra “emergência”?

Fontes consultadas: Nationally determined contributions under the Paris Agreement – Synthesis report (UNFCC, 2021), Climate target updates slow as science ramps up need for action (Climate Action Tracker, 2021),

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