Qual a relação entre eventos climáticos extremos e o processo “feedback loops”?

Eventos climáticos extremos, Feedback Loops e os desastres recentes no litoral de São Paulo e países do sudeste africano

Lembra quando explicamos por aqui o que são feedback loops? (Aqui) Não? Vamos refrescar a sua memória. Feedback loops ou ciclos de feedback são processos que se auto-reforçam, amplificando ou reduzindo um determinado fenômeno.

No contexto das mudanças climáticas, feedback loops podem levar a um aumento significativo da intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, tempestades, furacões e ciclones.

No caso de eventos climáticos extremos, como ciclones, os ciclos de feedback podem exacerbar a gravidade do evento. Por exemplo, o aquecimento dos oceanos devido às mudanças climáticas pode criar um ciclo de feedback que aumenta a intensidade dos ciclones.

À medida que as temperaturas do oceano aumentam, a energia disponível para um ciclone se formar e intensificar aumenta, levando a ciclones mais intensos. Isso, por sua vez, pode levar a mais água quente evaporando da superfície do oceano, alimentando ainda mais o ciclone.

Processo de Feedback Loops na intensificação de Ciclone Tropical
Fonte: Adaptado de Feedback Loops Climate (2023)

Fenômenos recentes como o ciclone Freddy no sudeste da África e a chuva intensa histórica no litoral de São Paulo podem ter sido influenciados pelas mudanças climáticas (a ser confirmado através da ciência de atribuição) resultantes de feedback loops.

O ciclone Freddy atingiu o Malaui, Moçambique e Madagascar deixando 463 mortos, 183.159 pessoas deslocadas e 40.702 famílias desabrigadas, enquanto as chuvas intensas no Litoral de SP atingiram as cidades de Bertioga, Ubatuba, Caraguatatuba, Guarujá, Ilhabela e São Sebastião, sendo a última a mais impactada com 64 mortes e mais de 2.440 pessoas desabrigadas. A cidade de Bertioga ainda registrou um novo recorde brasileiro no sistema meteorológico, com uma chuva de 683 mm. Muitas pessoas perderam tudo que tinham nessas tragédias.

“Muito desse volume imenso de chuva que aconteceu no litoral paulista tem a ver com o fato de que a temperatura superficial do oceano estava mais alta, a cerca de 27 °C, fazendo o oceano evaporar uma quantidade imensa de água. O sistema meteorológico que ficou sobre o oceano, perto da costa, uma baixa de pressão, jogou essa imensa quantidade de vapor que evaporou do oceano para dentro da costa. O vapor subiu a Serra do Mar, condensou e choveu muito.”

Climatologista aposentado do Inpe, Carlos Nobre, sobre as chuvas no litoral de São Paulo de fevereiro de 2023, em entrevista a UOL (Pontes, 2023).”

Outros feedback loops relacionados a eventos climáticos extremos podem incluir o derretimento das calotas polares, o que pode levar a mudanças nas correntes e temperaturas oceânicas, bem como mudanças nos padrões de circulação atmosférica. Essas mudanças podem, por sua vez, afetar a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos.

Por isso, é essencial entender e abordar os feedback loops que contribuem para eventos climáticos extremos para mitigar seus impactos, prevenir ocorrências e desastres como os recentes descritos no futuro (lembrando que a frequência dessas ocorrências está cada vez maior). Claro que esses fenômenos precisam passar uma análise mais profunda na sua relação as mudanças climáticas dentro da ciência de atribuição, mas os fatores que fazem parte de uma reação em cadeia como os feedback loops são evidentes.

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